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Salvador 475 anos: Casa das Histórias reúne panorama de vivências do povo soteropolitano



Foto: Lucas Moura / Secom PMS

Se uma cidade é formada por sua gente, a história de um lugar pode ser encarada também como a soma de várias histórias pessoais. Em seus 475 anos, Salvador foi e continua sendo moldada por quem vive nela. E foi para dar protagonismo a essas pessoas que a Casa das Histórias de Salvador (CHS) reuniu uma pequena amostra do povo soteropolitano.

É no terceiro andar da Casa das Histórias que os visitantes encontram o coração do casarão, ou pelo menos onde está mais evidente a inspiração para o nome do edifício e sua razão de existir. Fica neste pavimento um conjunto de relatos de soteropolitanos, pessoas que fazem a capital baiana ser o que é. São histórias, saberes e fazeres da gente de Salvador, personagens com os quais nos identificamos e nos quais muitas vezes nos vemos de alguma forma.

Na exposição “Revelando Histórias”, estão reunidos 24 retratos de mulheres, homens e crianças comuns, de variadas etnias, lugares, idades e profissões. E abaixo de cada um desses retratos, o visitante, com um fone de ouvido, conhece um pouco das histórias dessas pessoas. Muitas vezes ignoradas ou deixadas em segundo plano pela história oficial, essas vivências são parte essencial da Casa, primeiro centro de interpretação do patrimônio de Salvador, inaugurado no final de janeiro deste ano. Eles falam sobre suas experiências, pertencimento, suas relações com a cidade – ou mais especificamente com bairros de Salvador – e suas conexões com aspectos como a religião, ou até mesmo o mar.

É o caso, por exemplo, de Arivaldo Souza Santana, conhecido como Ari Pescador. Líder de uma colônia de pescadores em Itapuã e filho de Iemanjá, ele não só retira do mar o seu sustento, como mantém uma “coisa espiritual” com a água salgada. “O prazer de estar na água e sentir a energia te puxando pra aquilo…eu nunca saí do mar sem uma pescaria, já passei até seis horas mergulhando. Você fica pensando e decide muita coisa quando está mergulhando, pensa como perdoar quando está em conflito. Tudo isso flui no mar”, diz. Casado há 32 anos, ele conta que até mesmo o matrimônio deve ao mar. “O mar tem uma importância muito grande na minha vida. Tudo que tenho na vida veio do mar, alivio minha mente no mar, minha filha pesca comigo”, afirma.

Salvador tem, além da porção continental, três ilhas: Ilha de Maré, Ilha dos Frades e Bom Jesus dos Passos. Nesta última, vive a publicitária e advogada Daniela Passos. “A ilha é meu lugar no mundo, nosso cantinho. As melhores memórias estão lá. Fui morar em Bom Jesus dos Passos aos cinco anos”, lembra. Em seu relato, ela destaca como ocorre localmente a celebração do Dois de Julho, data da Independência do Brasil na Bahia. Na véspera da data, portanto ainda no dia 1º de julho, moradores saem às ruas segurando fachos de fogo. Segundo a tradição oral, o momento remete a uma estratégia usada contra os invasores durante a guerra pela Independência. “Se conta que, pra que não invadissem a ilha, cada um segurava vários fachos acesos, e dava a impressão de que era muita gente”, diz Daniela.

Um aspecto muito importante na concepção da Casa das Histórias é o destaque à contribuição indígena e negra para a formação da cidade. Vindo da região Sul do estado, Niotxarú Pataxó aponta a importância de valorizar a cultura indígena do passado e do presente na capital baiana, onde trabalha com Educação. “Essa diversidade de Salvador me marca. Isso é muito meu também, tentar preservar não só a história, mas a vivência, principalmente porque os povos indígenas estiveram e passaram por aqui”, ressalta. Entre as experiências pessoais mais marcantes vividas na cidade, Niotxarú compartilha a vez em que saiu no Carnaval, junto com o filho, em uma ala indígena junto com o afoxé Filhos de Gandhy.

Criado no bairro da Liberdade, o ator e afrochefe Jorge Washington reflete sobre as consequências de ter crescido sob a influência do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do país. “Quando vim pro centro da cidade, já foi com a negritude incorporada. Muito cedo a gente aprendeu a ter orgulho de ser preto; poder usar sua roupa colorida, seu black power, calça boca de sino”, diz. Segundo ele, ter nascido na Liberdade é “um privilégio”. “Tem uma pulsação diferente do resto da cidade, uma cultura negra enraizada. Um bairro que, na década de 70, tinha aquela turma feliz”, lembra, ao comentar sobre a participação das famílias e o forte sentimento comunitário em festas como o São João e a Semana Santa. “Todo mundo tomava conta de todo mundo. Já molecote, eu subia pro Carnaval da Liberdade, o meu Carnaval era vendo o Ilê. Eu tenho saudade disso”, recorda-se.

Os múltiplos olhares sobre Salvador incluem também a perspectiva da cidade para pessoas com deficiência (PCD). A advogada Mila D´Oliveira fala sobre os desafios de viver a capital baiana em meio às dificuldades com a mobilidade e acessibilidade. “Salvador é uma cidade onde a diversidade é uma grande característica. Quero manter minha identidade enquanto soteropolitana e que pessoas como eu consigam conviver com a cidade como eu convivo. Não quero estar afastada da cidade, quero estar nos eventos, nas manifestações culturais, entrar em todos os lugares”, afirma. Para ela, além da diversidade, um traço marcante de Salvador é o cultivo à alegria e ao prazer. “Estamos sempre em busca de estar bem. Isso é uma fonte de ensinamento”, defende.

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