*Campanha: COMBATE ÀS ARBOVIROSES 2024 – PUP

Aporá: Da narrativa da norueguesa Thea Urik Aksel.- Texto de José Alconso da Silva Filho


Autor: José Alconso da Silva Filho
Cadeira 24 da Academia Maçônica de Letras da Bahia - AMALBA

"Ano de 1988, no município de Aporá -  Bahia, um verbalizado de amor alargado, se fez comentado e compartilhado, por aporaenses de várias idades, que não se cansavam de falar, sobre o conteúdo da carta da senhora  Aksel Thea Urik que, de Oslo / Noruega a origem anunciava. Distinta que,  de férias, o pé em Aporá “embocou” e, das andanças e prosas com nativos, terminou por cultivar pela cidade grande amor que, em uma carta, para achegados, declarou. Esses, deveras emocionados, de certo, levaram a público, o manuscrito recebido. Aí, dada a beleza e singularidade afetiva do conteúdo da especial Epístola da saudosista turista, o executivo do município ordenara que aquela carta fosse a bronze, emoldurada e, num pórtico da entrada da prefeitura, na parede, fixada. Acontecido, cheio de beleza e encanto, que aqui faço contado, conforme os registros, de aporaenses antigos.

Escrevera a norueguesa Aksel Thea Urik: Aporá, minha saudosa Aporá... Quero falar um pouco sobre suas veredas; do teu povo solidário e hospitaleiro, que preza ao dia, o direito a sesta após o almoço ao meio dia. Onde, aqueles que madrugam e comemoram o alvorecer, nas manhãs, vezes orvalhadas e frias, permitem-se ao merecido e costumeiro cochilo, no ritmo da calmaria das tardes que, em teus ares, puros, sempre, sempre, se iniciam.

Aporá, minha querida Aporá...

        Vivi em ti acontecimentos belos, tantos, e tantos, meu Deus... Como vivi. Onde, além das águas que te banham, circundam e comportam; dos teus verdes campos pontuados com o marrom do Gado Sindi*, está o teu povo! Gente de boa vontade, que formoseia o trato a visitantes, todos, que de chegada, mais q’ de partida, tem a satisfação da estada, pra, de tua gente, costumes, e tudo mais que, nessa linda cidade existe, apreciar. 

Aporá, minha querida Aporá...

Somado a tanto, a este generoso e florestado “pedaço de chão baiano”, que um dia, de Inhambupe fora parte, eu sei, em tuas terras, o mundo inteiro poder, assim como, eu um dia,  ir de perto vivenciar, uma antiga manifestação, que de Aporá e região  é  tradição, e que,  de “Samba de Poeira” ostenta a denominação. Genuíno ritmo, que se faz num “requebrado de quadril e pisado bem miudinho”, por meninas, moças e senhoras, mais de outrora que de agora. Mulheres que, “das saias seguram as barras de “Renda de Bilro de Saubara” e, de forma sinuosa e frenético remelexo, movimentam,  não mais que a altura dos joelhos, as longas saias bordadas, rodadas,  recheadas de anáguas e seus babados de “Renda de Bilro de Saubara”. 

E o samba não pode parar! Ali, todos de branco, se encontram, literalmente, felizes, como a paz do universo a celebrar. Seguem elas, com a mão esquerda na cintura e a direita segurando, mexendo, e arribando, não mais que a altura dos joelhos, as barras das saias de “Renda de Bilro de Saubara”. E dançando vão... Vezes num rodar alucinante, como se, por “encantados”, tomadas. 

Ali, no cantarolar de versos antigos de conhecidos estribilhos, repetidos, repetidos, nas vozes agudas das matriarcas, ao sabor do “som seco” de palmas e atabaques de couro curtido de bode Moxotó, Elas bailam.  Tocada dançante envolvente que, por assim tentar "nos outros",  descrever... Pode acreditar, o som se faz num... “ti, tac, tu, tuc; ti, tac tu, tuc;”; “ti, tac, tu, tuc; ti, tac, tu, tuc;”; “ti, tac, tu, tuc; ti, tac, tu, tuc;”; mais palmas e cantarolar de vozes agudas, que sibilam prazer a ouvidos de quem, de longe ou de perto, se fazem a escutar. 

Eh "sambado bão", moço. Que acontece  num pisado miudinho, aonde mulheres de todas as idades, vão requebrando e rodando,  de forma formidável “como quê”! E, no acelerar do som dos atabaques, das palmas, e das vozes agudas das matriarcas, meu Deus, fica bom por demais da conta. Seus corpos se tomam em afagos de energia, que manifestam a singular beleza, do genuíno samba.  Do “Samba de Poeira”.

E da origem, pra mais informação, de babalorixá é trazida a conclusão, moço...  Ser ritmo que, um especial canto, faz imortalizar, o Lajedo do Orixá Boiadeiro. Encantado, que inspirou moradores de senzalas! Irmãos que, simples goles d’água na grande fonte do "caboclo", de forma solene, em gratidão, cantando, anunciaram: “Estava no meu lajedo, e fui beber água no gravatá* seu Boiadeiro”; “e fui beber água no gravatá seu Boiadeiro”; e fui beber água no gravatá seu Boiadeiro. “Estribilho: “e fui beber água no gravatá seu Boiadeiro”; e fui beber água no gravatá seu Boiadeiro”. “Pedrinhas miudinhas de Aruanda* ê, ê”...  Lajedo, tão grande, tão grande de aruanda, ê*”. “Pedrinhas miudinhas de Aruanda* ê, ê”...   Lajedo, tão grande, tão grande de aruanda, ê, ê*”. “ti, tac, tu, tuc; ti, tac tu, tuc;”; “ti, tac, tu, tuc; ti, tac, tu, tuc;”. Repete: “Estava no meu lajedo, e fui beber água no gravatá seu Boiadeiro”. Estribilho: “e fui beber água no gravatá seu Boiadeiro”; e fui beber água no gravatá seu Boiadeiro”.

Cantigas lindas. Emocionantes hinos. “Lindos ‘sambas, sambar”,  que recebiam remendos continuados, de quem, na roda, adiantasse o verso, para o talento de cantadora, pleitear e, para a sua cantoria,  quem quisesse,   poder se convidar. 

Aporá, minha querida Aporá...

O “Samba de Poeira” que ainda hoje faz festanças, inclusive em  Datas santas,  o “Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó do som de palmas e atabaques, como numa canção, não carece de afinação, não! Nem compasso daqueles que um maestro “ritima” com batuta; pois, a poeira levantada do requebrado  “pisadinho e miudinho” de “pés com calcanhares rachados”, deslizando graciosamente no chão de barro, convida para o não esquecimento, de que, a labuta da  “vida escrava” nas senzalas, tinha na dança e no “Samba de Poeira”, o mais original e criativo alívio de sofrimento. Um genuíno e artístico “divertimento”. 


TEXTO ORIGINAL, ENVIADO A REDAÇÃO POR:
Autor: José Alconso da Silva Filho
Cadeira 24 da Academia Maçônica de Letras da Bahia - AMALBA
DATA: 25/04/2024



Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem

*Campanha: COMBATE ÀS ARBOVIROSES 2024 – PUP