O Gardes-Marine nº 2484 da Marinha do Brasil
Autor: José Alconso da Silva Filho
Ano de 1839, na Cidade do Salvador - capital do estado da Bahia, um acontecimento em carta transcrito pelo marinheiro acima no título anunciado, aqui faço contado, sem me ater se ficção ou fato, mas sim, “no gosto” de, a atenção convidar, para momentos antigos da nossa Marinha e fragmentos de sua história, que estampa peculiar glória, de ter tido na Bahia, o início do “sinal ao mar”, o primeiro Farol das Américas – o Farol da Barra! Que há 185 anos, com o seu “canhão de luz”, faz rota segura a navegantes, quando o sol e as estrelas, não mais ao olhar, constantes.
Escrevera o Gardes-Marine Zéu Barbosa em uma segunda missiva para o intendente d. Diogo Inácio de Pina Manique...
Camarada intendente da Guarda Real*, omitir pra ti que sair pra ver o barulho no almoxarifado da Casa das armas, ao pé das rochas aqui ao lado. Estava muito frio e ventos fortes sibilavam a tempo de parecer arrancar as lentes do farol que, de catraca travada, esforço me exigiu para com “a unha de um Pé de cabra”, os seus dentes remontar ao trilho cuja graxa, o contínuo trabalho, esgotou.
Não agüento tanto camarada intendente, mas vou me esforçando pra sinalizar com os Candeeiros a óleo de baleia “* e o “lumiar” de suas chamas que as quatro lentes do farol refletem num “canhão de luz”, a partir daqui do mirante "donde" estou sinalizando rota a navegantes que, de comum agradecimento, um ou outro, vezes, fazem soar com as suas “buzinas a ar”, sonoros “pooom, pooons” que, ainda que distantes, bem distantes, os sons que emitem, chego a escutar.
Durante o dia Camarada nem tanto, mas do pôr do sol ao amanhecer, munido com a minha Luneta monóculo náutica, tento “catar” ponta de velas, fumaça de chaminé e luz, pra então, a embarcações que nestas águas se fazem constantes, sinalizar daqui da torre, a seus comandantes, que correntes noroestes “se arrebentam” nas rochas aqui ao pé, e fazem chocar, tudo que das fortes correntezas do vezes revolto mar, não conseguir, a rota mudar. É isso! E mais... Faz favor, de a galope mandar estafeta levar aviso selado a d. Rodrigo de Sousa Coutinho – conde de Linhares, e esse ao Almirante Célio Gomes de Souza - meu comandante, que o Monte Santo Antônio da Cidade do Salvador - fortaleza com o farol de nome igual e, local “donde” estou que, na condição de ajuda humana, neste instante, dou abrigo a um grupo de náufragos da estância madeireira da Península de Maraú originários. Navegantes que, o barco a vapor onde estavam, teve o bombordo* abaulado por um Navio cargueiro de 115 pés*, que de gigante que era, estão a falar, passara a impressão... O seu Observador não avistou que o barco a vapor de 26 pés* onde estavam, na rota do mesmo, navegava. Assim, vindo a colidir e despedaçar o passadiço, o porão, a carranca que dava a proteção, e a janela do canhão. Com tanto, náufragos, fazendo-se ao mar, os quatro tripulantes em duas Barricas* de carvalho, agarram e, após horas nadando, por tormentas, quase vencidos, terminaram por chegar até as rochas deste costado. Dei socorro! E agora estou aqui a dividir com eles... A minha acomodação e ração*, a esperar o resgate tão logo esta carta, a partir deste intendente, saiba o Almirante Célio Gomes - meu comandante. E, se mais apresentação para a minha urgência a vossa senhoria, requerer, bem não sei, mas adianto... Sou o faroleiro Zéu Barbosa - Gardes-Marine nº 2484. Marinheiro que, um dia, de Brevet* comissão integrado, bem perto do fim dos meus tempos de serviço auferir, com decoração fizeram-me lotado aqui – não quero crer ser um destino que tivera o meu consentimento, mas, como oficial cumprindo da Marinha os mandamentos, de faroleiro primeiro do Farol de Santo Antônio, bem o meu serviço, cumpro. Detalhe camarada... Um dos náufragos é uma rapariga* castanha na pele e nos cabelos; cabocla que quase, traz no ventre um rebento, que segundo suas contas, conta! Beira à hora de comparecer a esta senda. Sendo adulta no ato da gestação, mas menina com quinze primaveras, documentos que carrega, atesta, faz valer tal fato, peço, para que a ajuda se confira de imediato. Grato. Assina: José Augusto de Pinho Barbosa (Zéu Barbosa)- Gardes-Marine nº 2484. Marinheiro com Brevet que, ao posto de Faroleiro primeiro do Farol da Barra (Farol de Santo Antônio), fora ordenado, e serviço cumpre.
Fim.
Autor: José Alconso da Silva Filho é Escritor e Membro da AMALBA - ACADEMIA MAÇÔNICA DE ARTES E LETRAS DA BAHIA - Cadeira 24