Além da Moldura
Ostinho
Vivemos num mundo viciado em fragmentos. Acostumamo-nos a ser definidos por uma fotografia estática. O olhar do outro é, muitas vezes, uma moldura pequena demais para a pintura vasta que somos.
Essa percepção equivocada — de que somos apenas aquilo visÃvel na superfÃcie — é uma das grandes fontes de angústia humana. É como se tentassem resumir o oceano inteiro apenas pela espuma que quebra na areia.
Quando alguém nos julga ou nos define, essa pessoa não está vendo quem somos; ela está vendo quem ela é capaz de perceber. O olhar do outro é filtrado pelas crenças, dores e limitações dele mesmo.
Onde veem arrogância, pode haver apenas uma timidez profunda.
Onde veem fraqueza, pode haver uma resiliência silenciosa que suportou tempestades invisÃveis.
Onde veem uma imagem congelada, existe um rio em constante movimento.
Somos muito mais do que essas migalhas de identidade que deixamos cair pelo caminho.
A verdadeira revolução interna acontece quando paramos de tentar caber nessas molduras apertadas e lembramos da nossa origem.
"Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual;
somos seres espirituais vivendo uma experiência humana."
— Pierre Teilhard de Chardin
Ao dizer que somos partÃculas de Deus, reconhecemos que não somos acidentes biológicos. Carregamos, em cada átomo, a mesma energia que criou as estrelas e expande o universo. Isso significa que:
Somos infinitos: não temos fim nas nossas definições. Temos capacidade de mudar, de perdoar, de criar e de transcender.
Somos donectados: A separação entre "eu" e o "outro" é uma ilusão da matéria. Na essência, somos feitos da mesma luz.
Somos dignos: O nosso valor não vem de "likes", de aprovação social ou de sucesso financeiro. O nosso valor é intrÃnseco. Já nascemos valiosos porque somos uma expressão da vida.
Entender que somos centelhas divinas nos liberta da tirania da imagem. Se o outro vê apenas o frasco, mas não consegue sentir o perfume, isso não diminui a essência do que está dentro.
Você é um universo inteiro fingindo ser uma pessoa comum. Não permita que a miopia alheia o convença de que você é pequeno. Honre a partÃcula de Deus que habita em você, tratando-se com a sacralidade que merece, independentemente de como o mundo o enxerga.
Ostinho
01.12.2025
